VIAJANTES EM BUSCA DA ESCURIDÃO:
CIGANOS E VISTANI
Na Terra Gótica, tribos de povos nômades conhecidos vulgarmente como ciganos ou Rom vagam pelo planeta. Poucos os compreendem. Visitantes estranhos, eles viajam constantemente, passando várias vezes pelas mesmas rotas, dependendo da época do ano. De vez em quando, eles somem completamente.
Muitos são bem-vindos... chegando em suas carroças coloridas, apresentam-se como artesãos, ferreiros e mascates; oferecem óleos exóticos, elixires, panelas, vasos e até mesmo elaboradas joias de prata.
Outros chegam como contadores de histórias, dançarinos e adestradores de animais, que vivem para entreter em troca de algumas moedas.
Alguns não são assim tão bem recebidos. Algumas pessoas os veem como ladrões, e suas mulheres como tentações aos homens de bem. Acreditam que elas enfeitiçam os homens com suas danças sensuais, atraindo-os para suas carroças e drogando-os com vinho envenenado para roubar-lhes tudo.
Alguns ciganos têm a reputação de roubar cavalos ou de invadir casas para roubar galinhas ou até mesmo crianças.
Muito embora sejam exímios artesãos, os ciganos não acreditam na ideia de propriedade privada. Se uma criança fugiu ou se uma família cigana precisa de um frango gordo para sua panela, eles simplesmente pegam – obviamente a criança foi rejeitada, logo, não a querem nem precisam dela, e quanto ao fazendeiro, ele tem tantos frangos bom que não dará falta de apenas um…
Os ciganos também são, de forma geral, extremamente generosos, tendendo a dar seus belos trabalhos impulsivamente de presente, ou trocá-los por qualquer coisa que lhes chame a atenção.
OS VISTANI
Os Vistani, conhecidos dos povos de Ravenloft, também tem presença na Terra Gótica. Vestidos de forma exótica e, para a maioria dos vitorianos, escandalosa, os Vistani se escondem entre seus primos ciganos e seguem a tradição Rom.
Tratado com suspeita e, por vezes, com curiosidade infantil, envoltos e escondidos em mitos e superstições, eles vivem vidas reclusas e desconhecidas. Essa aura de mistério aumenta a curiosidade das pessoas, que se reúnem em volta de suas fogueiras durante a noite, e de suas carroças de substancias medicinais durante o dia.
Ainda assim, existem segredos dentro de segredos na história dos Rom, e muitos dos que dançam ou leem suas cartas de tarô não sabem a verdadeira história da tribo Vistani.
NOS DIAS ANTIGOS
Tradicionalmente, acredita-se que os ciganos se originaram há milhares de anos no baixo Egito. Na verdade, o nome gypsy (cigano, em inglês) seria uma versão curta de egyptian (egípcio).
Uma teoria alternativa aduz que os ciganos vieram do norte da Índia, já que sua língua, Romani, tem raízes do oeste da Índia. A fala cigana é uma mistura poliglota de várias línguas, usando palavras emprestadas de várias terras por onde os ciganos vagaram.
O que poucos além dos mais antigos anciões da cultura cigana sabem, é que existe uma tribo que não veio de lugar algum da Terra Gótica. Essa tribo é chamada Vistani.
Nos dias antigos, quando os Faraós do Egito estavam em busca de grandes poderes, um deles libertou um grande mal sobre o mundo – a Red Death. Essa força escapou de sua prisão infernal e trouxe escuridão e destruição sobre a Terra Gótica.
Sua consciência maligna espalhou as sementes de uma maldição sobre o mundo, e despejou um mal sombrio que esticou seus tentáculos através dos séculos.
No entanto, da mesma forma que a caixa de Pandora continha uma pequena porção de esperança para se opor à miríade de males que foram liberados com a sua abertura, a entrada da Red Death na Terra Gótica também trouxe aqueles que talvez possam combater seu veneno e amenizar algumas das agonias do mundo.
OS VISTANI EM 1890
Os Vistani gradualmente vagaram de sua origem mítica no Egito e associaram-se com os Rom, um povo que buscava libertação do sistema de castas da Índia, tornando-se viajantes sem lar. Para a grande maioria, eles são apenas mais uma tribo de ciganos – a mais poderosa e misteriosa.
Viajando em grupos de cerca de cinquenta pessoas ou mais, geralmente misturados com outros Rom, os Vistani aparecem na maioria das vezes em áreas do Oriente Médio, Europa e Américas. No entanto, como guardiões das profecias, eles por vezes podem ser encontrados onde quer que seus talentos sejam necessários.
VISTANI E AS ARTES ARCANAS
O clã é mergulhado em magia – muito mais do que uma tribo cigana comum. Contam com ao menos um ou dois Místicos e alguns Adeptos em cada caravana, bem como outros com talentos como Prognóstico, Psicometria, Hipnose e Sexto Sentido.
Misteriosamente, os Vistani não são afetados pela Red Death, sendo imunes aos seus efeitos negativos. Eles não fazem testes de poder quando lançam magias e não fazem testes de proficiência para conjurar magias.
Normalmente eles são Místicos ou Adeptos, uma lembrança de sua antiga linhagem Zarovan. Sua grande gama de poderes lhes dá uma sensibilidade aguçada para pressentir o futuro, sentir as vibrações do passado e reunir uma gama de informações que poucos outros conseguiriam. Essas informações raramente estão disponíveis para não Vistanis, sendo passadas apenas para aqueles em boas graças com a tribo ou seus aliados na luta contra a Red Death.
LEITURA DA SORTE VISTANI
Desde que surgiram na Terra Gótica, os Vistani tem usado continuamente seus métodos ancestrais de prognóstico. Quando os personagens procuram os serviços de um vidente Vistani, eles devem fazê-lo de forma discreta e respeitosa, pois eles não são facilmente convencidos a usar seus poderes ao serviço de outros.
Promessas de riqueza, embora um bom começo, não convencerão nenhum Vistani a usar suas habilidades – a menos que ele tenha razões próprias para vasculhar o futuro sombrio ou o passado esquecido.
Muito embora a maioria dos Vistani tradicionais use o Tarokka, como método principal para estudar as brumas do tempo, outros adaptaram rituais Rom, como leitura de mãos ou de folhas de chá. Outros, ainda, são proficientes na leitura de bolas de cristal.
Alguns ciganos de outras tribos se passam por Vistani para extorquir dinheiro dos georgio (não-ciganos). Como se pode imaginar, isso gera uma ira terrível entre os Vistani, e dificilmente a mesma pessoa comete esse erro duas vezes.
POÇÕES E ELIXIRES
Os Vistani, como a maioria dos ciganos em 1890, por vezes atraem a atenção de seus clientes com várias promessas de curas milagrosas, unguentos e elixires. Em sua maioria, esses remédios são apenas uma mistura de ervas e álcool, que podem fazer com que as pessoas pensem que estão apaixonadas ou que ficaram mais corajosas, por exemplo, mas não tem nenhum poder real.
Aqueles afortunados o suficiente para cair nas graças da tribo Vistani, podem usufruir do benefício de sua habilidade de fermentar poções menores. Algumas dessas poções podem acelerar a cura ou neutralizar venenos.
Raramente será criado um elixir mais poderoso, embora nenhum seja capaz de reviver os mortos ou fazer alguém se apaixonar de verdade.
As poções Vistani são mais poderosas do que qualquer uma produzida por outro Místico ou Adepto, pois, assim como a magia Vistani, são livres da influência da Red Death, e não atraem sua atenção.
MEIO - VISTANI NA TERRA GÓTICA
Raros são os giomorgo, ou Meio – Vistani, crianças que não são apreciadas pelo povo Vistani da Terra Gótica. Porém, sendo um clã pequeno e singular, eles não podem se dar ao luxo de desprezar ninguém nascido de suas fileiras. Sendo assim, poucos Meio – Vistani se sentem como párias, como acontece com seus pares em Ravenloft. Muitas crianças nascidas entre os Vistani são meio – Rom.
Muito mais raro é uma criança nascida de um Vistani e um giorgio (não-cigano). Os Vistani mais tradicionais desacreditam nessa mistura de sangue, apontando a perda dos poderes e o enfraquecimento da Visão. Ainda assim, os Meio – Vistani podem ser tão proficientes em Psicometria e Sexto Sentido quanto os Vistani puros, bem como tão habilidosos quanto estes na leitura do Tarokka.
A Loucura da Lua, descrita no Ravenloft’s Player’s Handbook, causou a morte de alguns giomorgos, tidos como loucos, e levou outros a serem aprisionados, para serem usados em testes por estudiosos de uma nova ciência chamada Psicanálise.
Embora os giomorgo possam se sentir atraídos para a classe Adepto, alguns por vezes se tornam excelentes Médiuns. Naturalmente aprisionados entre a Terra Gótica e outro mundo, eles se tornam excelentes conduítes para espíritos desejando fazer contato com o outro lado. Infelizmente, Meio – Vistani não são imunes às maquinações da Red Death, e suas magias são tão suscetíveis às falhas e testes de poder como quaisquer outras.
Mestres devem decidir se permitem ou não personagens Meio – Vistani e, se for o caso, devem utilizar as sugestões contidas no Ravenloft’s Player’s Handbook para criar o personagem.
CONHECIMENTO PROIBIDO: COMO SOMBRAS EM UMA ESFERA
Em um tempo há muito esquecido, em um mundo desconhecido até para os Vistani, uma jovem mulher chamada Neferi, da tribo Zarovan, olhou em uma bola de cristal e viu uma faixa de luz irromper das Brumas, abrindo caminho para um reino rico e fértil, muito diferente de tudo que ela e seu povo conheciam.
Chamando sua tribo, pois era sua raunie, ela lhes mostrou o lugar que tinha visto em sua visão e comandou que a levassem até lá, pois teve pressentimentos de que grandes mudanças e desafios se aproximavam.
O que ela não sabia é que suas ações selaram o destino de sua tribo, condenando-os a vagar por um novo mundo sem Brumas – e sem esperança de liberdade. Enquanto sua caravana viajava pelas bordas desse reino, eles avistaram um brilhante raio dourado, que partiu as Brumas.
Através do caminho iluminado, eles avistaram uma terra de árvores verdejantes, um largo rio azulado, e grandes templos pontiagudos. Como profetizado, a tribo de Neferi viajou através da passagem nas Brumas para um mundo altamente mágico, fértil e imaculado. Não muito tempo depois, a Red Death encontrou um caminho para o mesmo mundo.
A Red Death, presa em um inferno particular, encontrou uma forma de seduzir alguém do além, convencendo um tolo sacerdote sedento de poder a obedecer seus comandos em troca de conhecimento sobre os segredos da vida e da morte.
Enquanto a primeira caravana Vistani encontrou seu caminho por entre as exuberantes figueiras às margens do Rio Nilo, eles sentiram um vento frio e amargo por entre as folhas, e avistaram uma sombra cobrindo o sol acima deles.
Assim foi a chegada dos andarilhos à Terra Gótica, para trazer esperança para um mundo que não é seu, e manipular as sombras como a mão do destino.
Poucos Vistani em 1890 lembram essa história. Contada por gerações entre o povo de Neferi, é apenas um conto entre as muitas especulações para todos, menos para a raunie e seus sucessores – mas mesmo eles não tem certeza do quanto é verdade ou fantasia na história.
A Red Death está presente nas vidas dos Vistani apenas como uma história sombria e maligna, um ritmo fúnebre em suas canções e histórias. Todos riem e negam sua presença, apesar de sentirem um calafrio em seus corações.